Música que embala o capítulo:
Camila - Diedra Roiz
- E aí?
Olhei para
Flávia tentando fingir que não tinha entendido:
- E aí, o quê?
Ela riu:
- Não se faz de
boba, Camila... Quero saber detalhes, anda! Pode ir contando tudinho!
Meu sorriso foi
condescendente e... Indiscutivelmente triste:
- Não houve
nada.
Nem assim ela
acreditou em mim:
- Ah, é!
Deixei escapar
um longo suspiro:
- Andamos de
moto, só isso.
Flávia insistiu:
- Vocês ficaram
horas fora, só as duas, sozinhas... Ah, vamos lá... Como não houve nada? A
guria tá visivelmente interessada em ti!
Foi a minha vez
de rir:
- Ela tá é visivelmente
com pena, isso sim!
Flávia piscou e
inclinou a cabeça me analisando:
- Você tá
brincando, né? - Não me deixou responder: - O jeito que ela te olha...
Imediatamente me
defendi:
- Viagem sua!
- E é recíproco!
A conversa tinha
ido longe demais e eu já sabia onde acabaria. Movida única e exclusivamente
pelo instinto dei as costas, pronta para fugir dali. Mas Flávia não permitiu. Agarrou o meu braço e me virou para ela, de
forma quase agressiva:
- Camila, olha
pra mim! Aqui, bem dentro dos meus olhos e fala que não está interessada na
Sunny! Ãh? Vamos lá! Anda! Diz! – Abri e fechei os lábios várias vezes,
buscando em vão a negação que não consegui emitir. - Ela mexe contigo! Admita! -
Tentei inutilmente me soltar. Flávia me obrigou a ouvir. Usou um tom de voz carinhoso
e suave, como se fala a uma criança: - Camila, Camila... Isso é muito bom! É
positivo! Você precisa seguir com a sua vida!
Não era a
primeira vez que eu escutava aquilo. Milhares de vezes, de diversas formas,
várias pessoas já haviam dito. No entanto, a repetição não tinha o poder de
fazer com que as palavras fizessem sentido. Racionalmente sim. Mas a razão... Era
a mais insana das mentiras. Não significava nada. Nem alterava nada. Era
incapaz de me fazer trair o que eu realmente sentia.
- Que vida? A
que me deixou só aquele carro vazio? Mesmo se eu quisesse... Eu não teria como
prosseguir. Não sem saber...
Ela foi dura.
Ríspida:
- Quer saber?
Quer ter a certeza? Então tenha! A Sandra não está viva! Se estiver, dá na
mesma, é como se tivesse morrido! Não importa o que houve, Camila. Acabou. É
passado. Por mais que você se cerque de desculpas pra não encarar isso.
As lágrimas
escorreram livremente pelo meu rosto, salgando meus lábios retorcidos num sorriso
obscuro e dolorido:
- Eu encaro. Todos
os dias. É a minha realidade, a minha vida.
Naquela noite eu
fiquei deitada na cama, olhando para o nada, com o braço de Flávia ao redor de minha cintura, pensando naquele passeio de moto
inesquecível, a lembrança me causando um conforto que me fazia sentir um
desprazer quase físico. E a dor que esse desprazer causava me proporcionava
uma estranha forma de alívio. Essa dualidade de sentimentos já se tornara
habitual em minha vida. Como se eu não conseguisse nunca uma reação única, as
emoções e sensações vinham em cadeia, num círculo vicioso incontrolável em que
tudo que era bom se tornava negativo e vice versa. E isso era... Pior que
cansativo. Como se sufocasse, sem jamais conseguir respirar de forma
concreta, por mais que enchesse os pulmões de ar, estavam sempre vazios.
A luz do sol já
tinha surgido atrás das persianas quando finalmente meu corpo foi vencido pelo
cansaço. Acordei sozinha no quarto, com a sensação de ter dormido apenas alguns
minutos. Sentei na cama bocejando, calcei as Havaianas, abri a porta e parei
assim que ouvi a conversa que vinha da sala ou da cozinha:
- Não acho que
isso resolva, Lena. Afinal, ela ficou dopada durante os primeiros quatro meses
e serviu pra quê?
- Tá, eu não
sei. Mas é óbvio que ela não tá bem.
- Você realmente
não faz ideia, né? A Camila tá ótima perto de como já esteve!
Com o rosto
virado para cima, fechei os olhos e apelei mentalmente para qualquer tipo de
força superior que pudesse haver... Se houvesse:
“Ah, não... Não!
Por favor!”
Depois de tudo, acreditar
na “bondade divina” era difícil, na verdade impossível.
“Por quê? Por
quê?”
Eu morreria
questionando. O ressentimento era o meu sentimento maior, incapacitava qualquer
tipo de aceitação, resignação ou algo do tipo.
O inferno. Era
só o que eu conhecia, via e vivia dentro de mim.
- Flávia?
Chamei bem alto,
para que parassem de falar a meu respeito e eu pudesse entrar em segurança no
recinto.
- Bom dia!
Flávia e Lena
disseram juntinhas. Mônica olhou meio de lado para Lena e eu... Ignorei
completamente o clima recém criado, falei com a maior empolgação que consegui:
- Bom dia! Já
decidiram nossa programação?
Parecendo
agradavelmente surpresa, Flávia respondeu:
- Praia, praia e
mais praia?
E eu concordei:
- Perfeito!
Sentamos em
frente ao bar da Lu e da Ive novamente. Tentei aparentar uma calma e uma
indiferença que eu não tinha. Num misto de ansiedade, nervosismo e impaciência,
meus olhos esquadrinhavam repetidamente a areia, em busca de... Não queria
admitir, nem para mim mesma. Mas quando ela se aproximou, caminhando
sinuosamente em minha direção com um enorme sorriso de orelha à orelha, acho
que minha reação foi evidente. No entanto, ninguém disse nada. Nem mesmo
Flávia. Formou-se um estranho silêncio, quebrado por Sunny, de um jeito
sussurrado que me arrepiou inteira:
- Oi...
Felizmente,
todas responderam juntas:
- Oi!
Ninguém percebeu
– acho – o quanto eu gaguejei:
- O... O...
Oi...
Ela parou na
minha frente e ficou me fitando, sem que eu conseguisse desviar meu olhar do
dela. Só percebi que Flávia estava em pé do meu lado quando a escutei falar:
- Pode fazer o
tererê agora?
Sunny piscou,
como se voltasse à realidade:
- Ãh?
Flávia nem
tentou disfarçar o sorriso divertido:
- O tererê? Você
disse que faz...
Sunny sorriu
lindamente de volta. E só então desviou o olhar:
- Ah, sim. Faço.
É em você?
Dessa vez o
sorriso de Flávia foi pra mim:
- Na Camila.
Eu praticamente
pulei:
- O quê?
Foi ela. A
morena absolutamente irresistível, que exterminou toda e qualquer
possibilidade que eu pudesse ter de resistir:
- Vai ficar
linda...
Como definir? A
melhor de todas as torturas? O contato não tinha, pelo menos não deveria ter...
Nada de sexual, mas exatamente como no passeio de moto da véspera, meu corpo
correspondeu sem hesitar, como há muito não fazia. As mãos dela no meu
cabelo, tinham uma cadência que me deixou embriagada e, ao mesmo tempo, continham pura adrenalina.
Seria
perceptível? Tentei controlar a respiração, mas minha imobilidade me
denunciava, a tentativa patética de controle parecia pior ainda.
No fundo eu
sabia que era – tinha que ser – uma neura só minha. Lena e Mônica continuaram
conversando com Flávia, ninguém estava olhando. A única exceção era ela. Manteve
os olhos, a respiração e o sorriso em mim. Obviamente também podia sentir, o jeito que nossas peles pareciam se atrair como ímãs.
- Pronto! - Ela
exclamou antes de me dar um pequeno espelhinho. Eu não me olhei, mirei o
reflexo dela, que através do espelho me sorriu: - Gostou?
Balancei a
cabeça afirmativamente, sabendo que nenhuma palavra sairia.
- Sunny!
Viramos juntas
para o negro gigantesco atrás de nós. Ela se atirou e sumiu nos braços dele,
que já estavam abertos exigindo o abraço apertado que presenciei, num misto de
ciúme e curiosidade.
- Ah! Que bom te
encontrar! Vai tocar?
- Com certeza! E
se não fosse tocava, só porque você tá aqui!
Para minha
surpresa, assim que saiu do abraço Sunny se virou para mim:
- Chocolate,
essa é a Camila. Camila, o Chocolate é um grande amigo meu. Músico magnífico!
Ele estendeu uma
mão enorme, que apertei enquanto dizia:
- Prazer!
E Chocolate, com
um sorriso tão grande quanto ele respondeu:
- O prazer é
todo meu! Amiga da Sunny é amiga minha!
Tudo bem, eu já tinha
bebido. Todas nós tínhamos. E Chocolate realmente era exatamente como Sunny
havia descrito: um músico magnífico. Munido apenas de um violão, um microfone e uma caixa amplificadora tocou músicas
de todos os tipos e estilos. Todo mundo se animou e a areia se transformou em
pista de dança, uma verdadeira festa. Quando dei por mim também estava dançando. Na frente dela, com ela, para ela... Que se movia de um jeito indescritível.
Flávia se encarregou de não deixar minhas mãos vazias. Trocava as latinhas por
cheias assim que eu as esvaziava. Perdi a conta de quantas virei sem sentir o
gosto. O tempo se estendeu e dobrou, até um ponto que pareceu inexistir. Passou...
Tanto que o sol se foi e a luz começou a diminuir. Mas sequer tentei captar a
beleza do pôr de sol, nem poderia. A morena insinuante na minha frente... Era
a única coisa que eu via.
Então, Chocolate
entrou rasgando com Bob Marley: “Is this Love?”. E sem parar de acompanhar o
ritmo, Sunny se aproximou. Em nenhum momento me tocou, mas o calor entre nós quase
me fazia acreditar que ela estava colada em mim. Eu simplesmente me deixei
levar. Estava bom, muito bom. Não queria parar, pensar, muito menos me
culpar. Próximas, muito próximas... Centímetros nos separavam. Ainda assim
eu estava completamente despida de qualquer tipo de certeza. Um medo insólito
surgiu: “E se eu estivesse imaginando coisas? E se fosse só mais uma loucura da
minha cabeça?”
Ela sorriu. Meus
olhos se fixaram na boca carnuda, que se entreabriu, para sussurrar como se
pudesse ler meus pensamentos:
- Eu quero.
Antes de tomar
meus lábios com os dela.
No início foi
suave. De leve apenas. Como se ela soubesse, compreendesse, mostrasse... O quê?
Não saberia dizer. Racionalizar tornou-se uma impossibilidade.
Fazia mais de
dois anos que eu não permitia nem sentia vontade que alguém me tocasse. E
pareceu incrivelmente certo que fosse eu a aprofundar o contato. Possuída por
uma necessidade quase vital de prová-la, investi com a língua. Ela abriu
espaço, consentindo e correspondendo sem a menor passividade.
Respirar se
tornou cada vez mais difícil e ao mesmo tempo, facílimo. Como se ela me oferecesse
o ar. O Universo, lindamente infinito, parecia estar contido naquele beijo. Inteiramente preenchido de tremores, suspiros, gemidos... Me fazendo desejar,
precisar, me lançar em busca de mais.
E foi esse mais,
exatamente esse mais, que me travou. Como uma onda arrebentando e varrendo
por completo toda a areia da praia.
Ela me soltou
imediatamente, assim que sentiu minha imobilidade. Manteve o olhar no meu
enquanto eu me afastava. Um passo, dois, três... Para trás. Antes de me virar e
sair quase correndo. Só parei na beira do mar, com os pés submersos na água
gelada.
Apesar de manter o rosto escondido nas mãos, pude sentir perfeitamente a presença de Flávia. Ela não disse nada, apenas ficou parada ao meu lado.
Apesar de manter o rosto escondido nas mãos, pude sentir perfeitamente a presença de Flávia. Ela não disse nada, apenas ficou parada ao meu lado.
Uma única
palavra surgiu, silenciosamente dentro de mim, como se me tomasse: “Sandra...”
Sem que eu já
tivesse tanta certeza a quem aquele nome estava ligado.
postado originalmente em 02 de Maio de 2013 às 18:16
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postado originalmente em 02 de Maio de 2013 às 18:16
.
Gostei demais desse capítulo... A Camila é SUPER, gosto da forma como ela está sendo descrita no texto. Enfim, Diedra é o máximo!!
ResponderExcluirEsperando já, ansiosamente o próximo capítulo...
Beijos...
Lya, obrigada por curtir nosso trabalho!!! Espera que na quinta tem mais!!!
ExcluirBeijos
J. Hunter
Obrigadíssima, linda!
ExcluirCamila não é uma personagem fácil, espero estar à altura...
bjoimenso, linda!
Enfim não vale a pena prometer a mim mesma que só irei ler quando estiver completo, porque não irei cumprir, assim que sonhei que era quinta vim logo cá ver --'... Gostei muito deste capítulo e espero ansiosa pelo próximo... Beijo meninas e parabéns **
ResponderExcluirAh, que bom!
ExcluirVc nem imagina o qto me deixou feliz agora!
Pode deixar que seremos infalíveis! Toda 5a!
Né, não, Jenny Hunter?
bjo ultra mega giga, lindona!
Diedra RoiZ vc é simplesmente SENSACIONAL! !! Amei esse capítulo! rs sua fã: J.Hunter. :)
ResponderExcluirHahaha
ExcluirJennyfer Hunter vc é suspeita!
;)
Noooossa. Diedra, mais um capítulo hiper...mega... ultra... maravilhoso...rsrsrs..Que linda a Camila. Dá pra perceber, sentir a vulnerabilidade dela e o quanto ela luta e reluta em se entregar ás novas emoções!!! Simplesmente MARAVILHOSO!!!!
ResponderExcluirBeijos
Gilda
Gilda, Diedra não é sensacional? É incrível mesmo como a gente consegue sentir o que ela escreve.
Excluirobrigada por curtir nosso trabalho!!! Espera que na quinta tem mais!!!
Beijos
J. Hunter
Oi Gilda!
ExcluirTd bem?
Espero que continue gostando da Camila, afinal... Ela é humana e... Tropeça... Bastante, eu diria..
bjin!
Perfeito! Quero mais...
ResponderExcluirBeijos enormes.
Cris... Quinta tem mais!! E tá hot!!! rsrs
ExcluirBjs
Jenny e Diedra!
Brigadíssima, linda!
Excluir5a tem mais!
bjin!
ahhhhhhhhhhhh perfeito *-*
ResponderExcluirObrigadaaaaaaaaaa!!!!
ExcluirDiedra arrasa né?
Quinta tem mais!!
Bjs
Diedra e Jenny.
Como te agradecer, né?
ExcluirPostando toda 5a infalivelmente já ajuda? kkk
bjin!
perfeito,to amando e curiosa tbm kkk bjão!!!!
ResponderExcluirSe está curiosa Aninha, espera até quinta!! Acho que vai gostar do próximo!!! rsrrs
ExcluirBjs
Diedra e Jenny.
Até 5a, amiga!
Excluirtenho certeza que vai gostar Jennyfer Hunter tá arrasando do próximo!
bjo imenso!
Já vi que a Sunny vai ter muito trabalho pela frente!! Mas, digamos que isso apimentará ainda mais o conto...
ResponderExcluirNao preciso dizer que a trilha sonora esta simplesmente perfeita nehhh! A sensação de Nirvana é indescritivel... a sincronia da leitura com a musica nos transporta pra dentro do conto, sem palavras...
So ak esperando ansiosa pelo proximo cap... Bjuuuu
Pois é, Sarah... a Sunny vai ter trabalho mesmo!!!
ExcluirÉ incrivel o lance com as musicas... quando estamos escrevendo vem uma musica e cai perfeitamente para o momento. É muito bom!
Ficamos felizes por vc estar gostando!!! Não para de ler, tá?
Super beijos
Jenny e Diedra.
É, a Sunny foi se meter com a mais difícil das mulheres, afe! kkk
ExcluirQue bom que tá gostando das músicas, viu?
bjo ultra mega giga!
A história tah simplesmente perfeita até aqui...
ResponderExcluirBem que podia fazer postagens mais frequentes... To quase morrendo
de curiosidade pelos próximos capítulos...
To amando. Parabéns as escritoras.
Bem que gostaríamos mas já é difícil pra cada uma de nós conseguir escrever um capítulo a cada duas semanas... Sabe como é... Correria da vida moderna com jornada dupla de trabalho... Lerê lerê... kkk
Excluirbjo mega super giga!
ABSURDAMENTE MARAVILHOSO! Vocês estão arrasando! Viciante.
ResponderExcluirBjs
Célia
Obrigadíssima, amiga querida!
ExcluirEspero que continue gostando!
bjo muito mais que ultra mega super hiper giga imensamente Camilesco!
Mistura de emoções ao acabar de ler mais um capitulo Di, felicidade porque cada capitulo é maravilho e tristeza por saber que tenho que esperar a semana toda para continuar a ler... Você é incrível Diedra, cada conto seu é simplesmente perfeito.
ResponderExcluirQue bom que tá gostando, linda!
ExcluirMas não estou escrevendo sozinha, viu? Eu escrevo a Camila e a Jennyfer Hunter escreve a Sunny, parceria incrível com minha chakubuku, comadre e maravilhosa amiga! Tô amando!
bjo mega super giga!
Mistura de emoções ao acabar de ler mais um capitulo Di, felicidade porque cada capitulo é maravilho e tristeza por saber que tenho que esperar a semana toda para continuar a ler... Você é incrível Diedra, cada conto seu é simplesmente perfeito.
ResponderExcluirAhhhh Diedra ...vou resumir o que tenho pra falar...
ResponderExcluir"- Pronto!...Gostou?
Balancei a cabeça afirmativamente, sabendo que nenhuma palavra sairia."
Viu ,é assim mesmo :)
Diego Aparecido